Postagem premium de 22/11/2022
Conforme explicado na postagem anterior, em breve o blog terá uma área de membros com conteúdo exclusivo e de periodicidade mínima semanal. Até que a área de membros esteja pronta, todos terão acesso às postagens premium neste espaço.
Outro plano para a área de membros será a republicação de postagens antigas do blog ATUALIZADAS: a ciência evoluiu na última década, assim como meu pensamento a respeito de muitos temas sobre os quais escrevi – será uma oportunidade de revisitar assuntos importantes.
É sabido que síndrome metabólica – uma combinação triglicerídeos altos, HDL (colesterol “bom”) baixo, glicose elevada, pressão alta e gordura visceral é um dos maiores fatores de risco para doenças crônicas e degenerativas – incluindo diabetes tipo 2, doença cardiovascular, Alzheimer e câncer. Quem tem pelo menos 3 dessas características já pode ser incluído nesta síndrome.
A relação triglicerídeos/HDL dá uma boa ideia sobre tal saúde metabólica. Números abaixo de 2 nesta relação costumam indicar boa saúde metabólica. Assim, pode ser tentador imaginar que a manipulação farmacológica dos triglicerídeos e do HDL possa reduzir muito o risco cardiovascular. Mas não é bem assim.
Quase 10 anos atrás escrevi uma postagem sobre uma medicação que reduzia o LDL e aumentava o HDL – parecia ser o remédio perfeito: reduzir o ruim, aumentar o bom. Para surpresa dos pesquisadores, quem usou a medicação morreu mais. Como pode isso?
Pois bem, lembrei desse assunto pois recentemente um grande ensaio clínico randomizado testou um novo medicamento para reduzir triglicerídeos. E não houve redução de eventos cardiovasculares. Aliás, houve leve tendência (não significativa) para o aumento:
Devemos então concluir que é besteira valorizar HDL e triglicerídeos? Devemos abandonar a ideia de buscar melhorar a relação triglicerídeos/HDL? Não, nada disso. Temos apenas que cuidar pra não cair na falácia de confundir associação com causa e efeito. Triglicerídeos baixos estão ASSOCIADOS com menor risco de doença; HDL alto está ASSOCIADO com menor risco de doença. Isso não significa que aumentar o HDL em si, ou que reduzir os triglicerídeos em si reduza tal risco. Se entendermos que triglicerídeos altos e HDL baixo são marcadores de síndrome metabólica, poderemos entender que o problema é a síndrome metabólica propriamente dita. Se uma pessoa emagrece, reduz significativamente a sua gordura visceral, deixa de ter esteatose, agrega uma rotina de atividade física, etc, veremos em geral um aumento do HDL e uma redução dos triglicerídeos. Mas, baixar os triglicerídeos “na marra” com medicação e aumentar o HDL “na marra” com medicação obviamente não afetará a disfunção metabólica provocada por maus hábitos.
Um exemplo de fácil compreensão pode ajudar. Você já deve ter observado que fumantes pesados têm os dedos amarelados por causa da fumaça:
Se compararmos a incidência de câncer de pulmão em pessoas com dedos amarelados versus as que não têm dedos amarelados, veremos que indivíduos com dedos amarelados têm um risco 10 ou mais vezes maior de desenvolver a doença. Há duas formas de resolver o problema da cor dos dedos. Podemos interromper o hábito de fumar, e aos poucos os dedos voltarão à coloração normal. Ou podemos utilizar um produto de limpeza que elimina a coloração. Você acha que clarear os dedos com produto de limpeza reduzirá o risco de câncer de pulmão? É claro que não. Pois os dedos amarelados não são uma CAUSA do câncer, são apenas um MARCADOR de tabagismo. O mesmo se aplica a HDL e triglicerídeos. Nosso objetivo segue sendo melhorar estes marcadores – mas do jeito certo, com mudanças de estilo de vida.
Numa rara ocorrência, uma matéria jornalística boa sobre nutrição foi publicada, mostrando como a diluição da proteína na dieta contemporânea contribui para a obesidade em nível populacional. Esse foi o assunto do podcast Comida sem Filtro dessa semana. Confira!