Low-carb e menopausa

Saiu uma reportagem no jornal Correio do Estado da Bahia baseada em uma entrevista dada por mim sobre um assunto que interessa a muita gente: será que uma dieta low-carb pode ser útil nos sintomas da menopausa? Segue a reportagem, na qual eu acrescentei os links para os estudos citados:

Low-carb auxilia na mitigação dos sintomas da menopausa

26 de fevereiro de 2024

Segundo o médico referência em low-carb no Brasil, José Carlos Souto, dieta de baixo carboidrato ajuda na diminuição dos fogachos e no controle do ganho de peso e do acúmulo de gordura visceral

A menopausa é uma condição que afeta as mulheres geralmente entre os 45 e 50 anos de idade, e que sinaliza o fim do ciclo reprodutivo. Ela costuma vir acompanhada de diversos sintomas que são um verdadeiro tormento, entre os quais: calorões, os chamados fogachos; ganho de peso; acúmulo de gordura visceral (na barriga); e piora na sensibilidade à insulina, que pode acarretar diabetes e pré-diabetes. Nesse sentido, destaca o médico referência em low-carb no Brasil, autor do livro “Uma dieta além da moda – Uma abordagem científica para a perda de peso e a manutenção da saúde”, José Carlos Souto, a low-carb apresenta diversos benefícios às mulheres menopáusicas e pós-menopáusicas, justamente porque atua para mitigar diversos dos sintomas relacionados a essa fase. 

Conforme Souto, uma estratégia alimentar de baixo carboidrato pode ajudar na diminuição dos fogachos, um dos mais incômodos sintomas da menopausa, devido à sua eficácia na diminuição da resistência à insulina. Isto porque, afirma o médico referência em low-carb no Brasil, já está bem documentado na literatura científica que mulheres menopáusicas e pós-menopáusicas que apresentam resistência à insulina têm mais fogachos (ver também este estudo). “Portanto, em tese, uma dieta low-carb, que melhora a resistência à insulina, pode aliviar os fogachos”, diz. 

A eficácia da low-carb para a gestão de peso já é conhecida. De acordo com Souto, existem muitos ensaios clínicos randomizados mostrando que essa é uma forma de se alimentar que favorece a perda de peso em qualquer idade. “Trata-se de uma das estratégias que permite perder gordura corporal sem ter que passar fome no processo”, diz. Com relação aos benefícios causados por uma dieta de baixo carboidrato especificamente para a perda de peso em mulheres menopáusicas e pós-menopáusicas, o médico referência em low-carb no Brasil, afirma não haver estudos randomizados voltados especificamente ao tema.  

Contudo, destaca Souto, há um grande estudo observacional sinalizando que a estratégia auxilia nesse sentido. Realizado com 88 mil mulheres, todas pós-menopáusicas, o estudo constatou que as participantes que seguiram uma dieta com menos carboidrato perderam peso, enquanto as que adotaram uma dieta com baixa gordura e alto carboidrato ganharam peso. “Mesmo sendo observacional, a confiabilidade desse estudo aumenta em razão dos diversos ensaios clínicos randomizados, não especificamente em pós-menopausa, que demostraram que a low-carb é uma forma de se alimentar que favorece a perda de peso”, explica. 

Mulheres após a menopausa precisam de mais proteína e um aporte adequado de cálcio, afirma o médico. Dessa forma, segundo ele, uma dieta de baixo carboidrato bem formulada atende às necessidades nutricionais das mulheres nesta fase. “Isto porque, uma dieta low-carb equilibrada, que não é necessariamente a mesma das redes sociais, é não somente pobre em carboidratos, mas rica em proteínas, e admite o consumo de laticínios, como queijo, por exemplo, que é rico em cálcio”, diz. 

José Carlos Souto, médico e autor do livro Uma Dieta Além da Moda  

Mesmo com os benefícios comprovados da dieta low-carb para mitigar os efeitos da menopausa, muitas mulheres temem que a estratégia aumente o risco de osteoporose, que já está aumentado nessa fase. De acordo com Souto, esse medo encontra suas raízes em um mito que diz que dieta low-carb é ruim para a saúde óssea, porque estimula o consumo de proteína, que em excesso acidificaria o corpo e levaria à descalcificação óssea. “No entanto, diversos estudos sugerem que uma dieta mais rica em proteína não piora, e sim auxilia na melhora da densidade mineral óssea”, explica. Claro, ressalta o médico, não apenas o consumo de proteína auxilia nesse sentido, como a maior ingestão de cálcio, que, como visto, não é um problema em uma dieta low-carb. 

O maior risco que mulheres menopáusicas e pós-menopáusicas correm ao adotarem uma dieta de baixo carboidrato é o mesmo que o resto das pessoas (homens ou mulheres que não estão na menopausa), conforme Souto. “Há indivíduos que são magros, fisicamente ativos, metabolicamente saudáveis, que, ao fazerem uma dieta low-carb, mais especificamente uma dieta cetogênica (mais restritiva), podem desenvolver alterações muito significativas no colesterol, que não são interessantes”, diz. 

Contudo, afirma o médico referência em low-carb no Brasil, a maioria das mulheres após a menopausa não tem essas características (ser magra, fisicamente ativa e metabolicamente saudável). Ao contrário, afirma Souto: grande parte desenvolve sobrepeso, obesidade, resistência à insulina ou componentes da síndrome metabólica, como gordura no fígado, pressão alta, triglicérides elevadas, HDL baixo, glicose elevada e até mesmo diabetes e pré-diabetes. “Mesmo porque a menopausa implica mudanças hormonais que propiciam acúmulo de gordura visceral e piora da resistência à insulina”, explica.  

Dessa forma, para a maioria das mulheres na menopausa e na pós-menopausa, a dieta low-carb se mostra muito vantajosa, justamente por sua eficácia em combater os efeitos nocivos que essa condição costuma causar à saúde. As mulheres menopáusicas e pós-menopáusicas que quiserem adotar uma dieta low-carb devem, grosso modo: dar preferência à comida de verdade (tudo que se encontra no açougue, na peixaria e na feira); eliminar o açúcar (não apenas o refinado, com também o açúcar de frutas, mascavo, demerara, orgânico etc.); evitar grãos (importantes fontes de amido, que costumam ser consumidos em sua forma refinada, estando presentes em boa parte dos alimentos ultraprocessados); e evitar outros alimentos ricos em amido, como arroz. O consumo liberal de proteínas, saladas e legumes é incentivado. 

Sobre o autor José Carlos Souto  

Nascido em Porto Alegre, é médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É urologista, mestre em Patologia pela Universidade Federal  de Ciências da Saúde de Porto Alegre e fellow em Patologia Experimental pela Universidade do Alabama, em Birmingham, EUA. Em 2011, seu especial  interesse pela interface entre nutrição e saúde o levou a criar um blog sobre  dietas com baixo teor de carboidratos que se tornou o maior do gênero no  Brasil. Sua capacidade de comunicar temas técnicos para o público o tornou conhecido nas redes sociais. Com mais de 500 postagens nas quais se discutem ensaios clínicos e evidências, o blog já teve mais de 25 milhões de visualizações.  

Confira uma postagem recente sobre esse assunto na área de membros do blog

Uma das coisas que eu mais escuto, tanto em consultório quanto nos comentários das mulheres nas redes sociais diz respeito a ganho de peso na menopausa e dificuldade para perder peso nesse período da vida. É curioso que parece haver um descompasso ente essa realidade facilmente constatável e a literatura científica. A literatura nos diz que o ganho de peso associado à menopausa seria explicado pelo avançar da idade: é um fato estatístico que as pessoas tendem a ganhar peso depois da década dos 20 anos. Embora trate-se de uma média, e possa haver uma variação importante de um país para outro, pode-se dizer que os adultos no mundo ocidental tendem a ganhar cerca de meio quilo por ano. Sendo assim, seria natural que as mulheres lutassem contra o sobrepeso e a obesidade na menopausa, afinal, a menopausa começa na meia idade – estar na menopausa é um marcador de ser uma pessoa com mais idade.

Mas eu não estou convencido dessa explicação. Acho que esses artigos foram escritos por homens (ou por mulheres bem jovens). Precisa ser completamente desconectado do que as mulheres relatam para acreditar que o problema é somente relacionado à idade. Já perdi a conta do número de mulheres que me relataram que, seguindo a mesma dieta e a mesma rotina de exercícios, o controle do peso passou a ser mais difícil depois do climatério. E eu acredito nelas. Vamos tentar entender esse fenômeno?

Temos também um episódio recente do podcast Comida Sem Filtro sobre esse assunto:

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