A censura do blog – e o novo canal no Telegram

A coisa começou após uma postagem sobre diabetes. Mais especificamente, a postagem na qual eu falava das novas diretrizes nutricionais da ADA (Associação Americana de Diabetes) que passavam a adotar low-carb como uma das estratégias nutricionais padrão, e a que obtinha os melhores resultados, em diabetes tipo 2. Inúmeras pessoas começaram a me dizer que não conseguiam compartilhar a postagem nem no Instagram, nem no Facebook:

Logo descobri que não era possível sequer enviar o link da postagem pelo messenger ou por direct. O motivo permanece um mistério (“viola os padrões da comunidade”), e por mais que as pessoas selecionassem a opção “se você acha que isso é um erro, avise-nos”, nunca houve uma resposta.

Não só isso: pouco tempo depois, o blog inteiro foi bloqueado. Faça o teste você mesmo. Tente compartilhar qualquer postagem desse blog no Instagram ou Facebook. A coisa chega ao extremo de bloquear qualquer página que aponte para o blog – inclusive Linktree, etc. Seja lá qual foi o crime, deve ser inafiançável…

Recentemente, tenho pensado muito sobre isso. A internet começou com o conceito da descentralização – não havia um computador central da internet. A internet é a coletividade das redes de  computadores que a compõem. Este blog deve o seu sucesso a esse aspecto democratizante da rede. Uma pessoa, com seu computador pessoal, é capaz de falar para o mundo. Antes da internet, isso só poderia ser feito através de uma rede de TV, ou de um grande editor. A internet parecia remover tais gargalos que separavam autor e audiência, e o algoritmo do Google, ao indexar as páginas por popularidade e por citação, parecia oferecer algum tipo de meritocracia digital. 

Mas isso foi antes da ascensão das redes sociais. Aquilo que surgiu para conectar antigos colegas de escola e parentes, virou A INTERNET de fato. Muitas pessoas obtêm todas as informações e notícias exclusivamente na Rede. Para boa parte da humanidade, a internet é o Facebook e o Instagram. Que são uma única empresa – A Rede Social. A internet, que nasceu descentralizada, agora roda – em sua maioria – nos servidores de uma única corporação privada, com sede nos EUA, regida por regras próprias e pouco claras, às quais você prestou vassalagem, num pacto faustiano, ao clicar “eu concordo”.

Por este motivo, criei um novo canal para passar informações ao meu público sem a censura kafkiana da Rede Social. 

O canal pode ser acessado em t.me/drsouto

Lá no canal, escrevi um pequeno texto de boas-vindas:

“O Instagram e o Facebook baniram (há vários meses) o compartilhamento de qualquer link do meu blog, seja em postagens ou até mesmo em mensagens. Já reclamei – sem resposta. Meus leitores já reclamaram – sem resposta.A verdade é que essa empresa tomou para si a prerrogativa de decidir, unilateralmente, o que você deve ou não deve ler, o que você deve ou não deve ver na sua time-line. E a culpa é nossa. Nós que conferimos a essa empresa o status de monopólio da informação, oferecendo de graça todos os detalhes de nossas vidas, em troca de vídeos de gatinhos. A verdade é que não podemos ficar na mão de tais plataformas. Existe vida fora do ecossistema Facebook/Instagram. Para essa empresa, você não é o CLIENTE – os clientes são as empresas que compram as suas informações. Para essa empresa, você (e seus dados, e sua vida) é o PRODUTO. De agora em diante, estarei postando aqui tudo o que for relativo ao meu blog, todos os novos estudos e publicações que achar relevantes para o meu público e – por que não? – o que me der na telha.Seja bem-vindo ao Ciência low-Carb Sem Censura.”

O fato de que o algoritmo deste leviatã digital decide o que você deve ou não ler e assistir deveria ser assustador. Nos anos de chumbo, a censura oficial tentou banir a circulação da informação inconveniente mediante o uso da força. Eram mesmo muito toscos, nossos censores. O que A Rede Social fez foi muito mais eficaz. Como explica Yuval Harari, um algoritmo que conhece você melhor do que você mesmo é capaz de lhe entreter com aquilo que você mais quer ler e ver, ao mesmo tempo em que censura aquilo que A Rede Social julga, em sua onipotência e onisciência, que deve censurar. Quando ainda se lia jornal, você poderia ler opiniões diferentes em diferentes periódicos. Agora, o algoritmo lhe fornece a versão que ele sabe que você irá gostar mais. E se a Rede decidir que você não deve ler algo – você nem saberá que está sendo cesurado. Pois a vida, nesta distopia para a qual caminhamos, é integralmente contida dentro do ecossistema da própria rede.

Voltando à censura do blog. O que fazer? É difícil saber, quando nem se sabe o motivo. Terá sido denúncia de um grupo organizado (no próprio Facebook?)? Terá sido uma queixa de alguma sociedade/grupo insatisfeito? Como resolver, se não sei o motivo? Como se defender quando não se sabe do que se está sendo acusado? 

Nessas horas, o livro O Processo, de Franz Kafka, vem à mente:

“Nesta obra, o protagonista, atônito, ao ser informado que contra ele havia um processo judicial (ao qual ele jamais terá acesso e fundado numa acusação que ele jamais conhecerá), percorre as vielas e becos da burocracia estatal, cumpre ritos inexplicáveis, comparece a tribunais estapafúrdios, submete-se a ordens desconexas e se vê de tal modo enredado numa situação absurda, que a narrativa aproxima-se (e muito) da descrição de confusos pesadelos. Mas não distam muito de pesadelos os processos reais que tramitam nos vãos da estrutura pesada, arcaica, burocrática e surreal das instituições zelosas da Justiça, de modo que, por fim, Franz Kafka terá sempre o mérito de ter, no início do século passado, retratado a sociedade de muitos povos, com fidelidade e crueza dignos de alçar sua obra à imortalidade.” (Wikipedia)

Penso que a solução para essa situação kafkiana passa por sair um pouco do ecossistema da Rede Social, pois ao contrário Josef K., o personagem do livro, isso não nos foi imposto. Nós é que clicamos em “eu aceito”.

Espero vocês todos em t.me/drsouto

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