Imagine um futuro distante, no qual as pessoas sejam vegetarianas e no qual os leões selvagens tenham sido extintos. Você é o responsável por um grupo de 2 dezenas de leões criados em cativeiro. Só há um problema, os leões já foram extintos há tanto tempo, que não se sabe qual a sua dieta ideal. Como você fará para descobrir? Bem, você pensa, todos sabem que vegetais são saudáveis (lembre-se, você é vegetariano, este é seu paradigma), de modo que você oferece uma bela salada aos leões. Naturalmente, eles recusam, e começam a emagrecer. Então, você oferece frutas a eles. Eles comem, mas não parecem nada bem, ficam prostrados, alguns vomitam. Então, você começa a conduzir estudos nos quais varia os tipos de frutas, e descobre que a saúde dos leões é melhor com, digamos, coco, abacate e batatas do que com laranjas e limões. Sua conclusão? Naturalmente, são as frutas cítricas que estão matando os leões! Como seu paradigma nem cogita a possibilidade de que estes animais tenham evoluído para um tipo de dieta competamente diferente, você conduz intermináveis estudos para descobrir os vegetais mais adequados. E, naturalmente, os resultados são contraditórios, pois os leões acabam adoecendo com qualquer variação de dieta herbívora. Mas você é um cientista altamente sofisticado. Então, você conclui o óbvio: leões são animais de saúde naturalmente frágil. A solução está na tecnologia. Vamos começar desenvolver medicamentos para as várias doenças que os leões estão desenvolvendo desde que chegaram ao zôo. Ao final do processo, você terá uma série de leões doentes, tomando 4 ou 5 variedades de remédios ao dia. Suas conclusões: 1) ainda não temos evidências de qual a melhor combinação de vegetais para a saúde ideal dos leões. 2) Estes leões com certeza não estão seguindo as recomendações dietéticas, tampouco estão se exercitando como recomendado.
Numa cidade vizinha, um cientista responsável por outro zoológico resolve adotar uma abordagem evolutiva, isto é, buscar as evidências de que tipo de dieta estes animais tem consumido nos últimos milhões de anos. Os dentes afiados, o intestino curto, as garras, tudo aponta para uma dieta carnívora. Sítios arqueológicos mostram fósseis de leões contendo ossos de outros animais em seus estômagos, e nenhuma evidência de fibras vegetais. Por fim, pesquisadores descobrem uma colônia de leões selvagens na África, em situação que deve ser análoga à de seus antepassados fossilizados. Estes leões comem exclusivamente carne! Além disso, são extremamente saudáveis, correm a 60 Km/h, enfim em nada lembram os leões adoentados do zôo. Então, nosso cientista resolve oferecer aos animais uma dieta baseada em (heresia!) carne. Para sua surpresa, os animais respondem muito bem. Em 30 dias estão fortes, ativos e já não precisam de medicamentos.
Se você faz uma pergunta a um físico, a sua resposta ocorrerá dentro do contexto da teoria da relatividade, ou da mecânica quântica. Afinal, estas são teorias unificadoras do conhecimento físico. Qual a teoria unificadora das ciências biológicas? Sob qual ótica TODAS as conjecturas em biologia são analisadas desde o século 19? É a evolução pela seleção natural. É notável que nossos cientistas estejam tão perdidos sobre a nutrição humana quanto os personagens da fábula acima. A resposta evidente está na abordagem evolutiva. Estamos procurando respostas com os cientistas errados. Precisamos de Charles Darwin.