A força das evidências está cada vez mais irresistível.
A reportagem a seguir, da BBC, deixa isso bem claro. No texto, várias afirmações são feitas baseadas nas evidências científicas recentes no que diz respeito ao fato de que a gordura da dieta não deve ser temida (extensamente abordadas aqui no blog). Tais afirmações foram marcadas por mim em VERDE. Há ainda umas poucas frases que representam medos ancestrais residuais, deixados pela lenda urbana da epidemiologia dos anos 1960-70. Estas frases, que entram em contradição com outras partes da própria reportagem, estão salientadas em VERMELHO.
Comer mais gordura pode ser bom para a saúde
Há 4 horas
Ao contrário do que diz o senso comum e os conselhos de muitos médicos dos últimos anos, comer mais gordura pode ser benéfico para a saúde.
Diversos estudos recentes apontam para o fato de que certos tipos de gorduras – e não todos – podem sair da lista de “vilões”, seja para quem quer emagrecer ou evitar problemas cardíacos, afirma o médico Michael Mosley, que apresenta o programa da BBC Trust me, I’m a Doctor (Confie em mim, eu sou médico, em tradução livre).
“Essas pesquisas são o tipo de notícia que faz com quem você queira jogar na pia aquele leite desnatado que você usa no seu cappuccino”, diz Mosley.
Se a crença era a de que gorduras saturadas criavam coágulos nas artérias e engordavam, novas evidências mostram que consumi-las pode, na verdade, ajudar a perder peso e ser benéfico para o coração.
No início do ano, por exemplo, um estudo liderado pela British Heart Foundation causou polêmica. Cientistas de Oxford, Cambrige e Harvard, entre outros, examinaram a ligação entre o consumo de gordura saturada e doenças cardíacas.
Apesar de analisar o resultado de quase 80 estudos envolvendo mais de meio milhão de pessoas, eles não encontraram evidências convincentes de que comer gorduras saturadas implicava em um maior risco de problemas cardíacos.
Mais do que isso, quando analisaram os testes sanguíneos, eles descobriram que altos níveis de gorduras saturadas estão associados com menor risco de doenças coronárias.E isso é válido especialmente ao tipo de gordura saturada encontrada no leite e outros laticínios (veja aqui e aqui), conhecido como “ácido margárico”.
A pesquisa provocou desconfiança por parte de alguns especialistas, que temem que o resultado possa confundir as pessoas e que passe não uma mensagem de que é ok consumir mais de algumas outras formas de gordura, mas sim de que é ok comer muito mais gordura saturadas até em doces.
E isso é preocupante, segundo eles, porque é sabido que os altíssimos níveis de obesidade no mundo vem sendo inflamado por petiscos como muffins, bolos e salgadinhos, todos com altos índices de gordura, açúcar e caloria.
Professora Kay-Tee Khaw, de Departamente de Saúde Pública da Universidade Cambridge, foi enfática ao dizer que a pesquisa não é uma licença para se encher de junk food. Mas ela concordou que os resultados tornam o cenário nutricional mais complicado.
“É complicado no sentido de que algumas comidas que têm muita gorduras saturadas parecem reduzir doenças cardíacas.”
Segundo ela, há fortes evidências de que comer oleaginosas algumas vezes por semana reduz o risco de males do coração, apesar de conterem gorduras saturadas e insaturadas. A pesquisadora afirma ainda que as provas disso são menos fortes em relação a laticínios, e vê poucos problemas no consumo de manteiga e leite.
Mas, deixando de lado as questões cardíacas, de qualquer jeito, gorduras são ruins porque engordam, certo? Não necessariamente.
Um estudo recente produzido pelo Scandinavian Journal of Primary Health Care, intitulado “Alto consumo de gordura de laticínios ligado a menos obesidade” questiona essa relação.
No estudo, pesquisadores analisaram 1.589 suecos por 12 anos. Os que seguiram uma dieta baixa em gorduras – cortando manteiga, leite desnatado e cremes – tinham mais tendência a terem excesso de peso na região abdominal do que os que consumiam manteiga, leite A e creme de leite.
Uma das razões para isso pode ser o fato de que consumir gordura faz a pessoa se saciar rapidamente, então, quando ela é cortada da dieta, o que se faz é substituir (conscientemente ou não) calorias com outros alimentos. E frequentemtente essa substituição vem em forma de carboidratos como pão branco e massas.
Calorias
O que se está concluindo até o momento é que não está liberado comer frituras ou colocar creme em tudo, porque mesmo o coração não sendo prejudicado pelo consume de gorduras, já está provado que ele é sim afetado por uma alta ingestão de calorias. (CONTRADITÓRIO COM O PARÁGRAFO ANTERIOR –> CONSUMIR A GORDURA É JUSTAMENTE UMA FORMA DE COMER MENOS CALORIAS ESPONTANEAMENTE).
“Acredito que a maioria das gorduras saturadas, especialmente a de alimentos processados, não são saudáveis”, disse Michael Mosley. (ISTO ENTRA EM CONTRADIÇÃO FRONTAL COM A EVIDÊNCIA CIENTÍFICA CITADA NO PRÓPRIO TEXTO: “Apesar de analisar o resultado de quase 80 estudos envolvendo mais de meio milhão de pessoas, eles não encontraram evidências convincentes de que comer gorduras saturadas implicava em um maior risco de problemas cardíacos.”) “Mas eu voltei a consumir manteiga, iogurte grego e leite semidesnatado, além de estar comendo muito mais castanhas, nozes, peixes e vegetais”.
(SEMI-desnatado??? – parece que alguns preconceitos são difíceis de vencer, mesmo… No próprio texto, mais uma vez, se lê: Os que seguiram uma dieta baixa em gorduras – cortando manteiga, leite desnatado e cremes – tinham mais tendência a terem excesso de peso na região abdominal do que os que consumiam manteiga, leite A e creme de leite.
Então, este foi o texto da BBC, completamente inimaginável em 2011, e hoje essas coisas são ditas com naturalidade. Sinal dos tempos.
A seguir, uma reportagem da Revista Exame, citando o professor Adolfo Neto, autor de conhecido blog de Corrida Low Carb:
Vale a pena embarcar na Dieta Paleolítica?
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Dieta: muitos especialistas criticam o baixíssimo teor de carboidrato de versão mais radical da dieta
Kelly Bastone, da Runners
São Paulo – Se uma dieta prometesse ajudá-lo a emagrecer e a sentir-se cheio de energia, além de prevenir gripes e resfriados, você a seguiria? E se você tivesse que abrir mão de comer massas, biscoitos, aveia?
Esses alimentos repletos de energia podem compor a base da alimentação de muitos corredores, mas estão entre as restrições na dieta páleo ou paleolítica, também conhecida como dieta das cavernas.
Ela defende um modelo de alimentação baseado na dieta dos seres humanos pré-históricos — sendo que a linha low carb (ou seja, com baixo teor de carboidrato) é a que vem tendo mais sucesso, e justamente entre atletas. Mas será que ela serve para você?
“A páleo tem vários pontos positivos”, diz Heather Mangieri, porta-voz da Academy of Nutrition and Dietetics, dos Estados Unidos. O programa exclui alimentos processados e açúcares refinados e dá ênfase a vegetais, frutas, castanhas e carne de animais alimentados com capim. Até aí, tudo bem.
“Sabemos que as dietas ricas em frutas e vegetais combatem as doenças cardíacas e alguns tipos de câncer”, diz Heather. A carne de animais alimentados com capim tem proporção de gordura mais saudável que a de animais alimentados com grãos, e toda carne fornece aminoácidos que aceleram a recuperação.
Poucos meses após a adoção de uma dieta páleo, o ultracorredor americano Timothy Olson estabeleceu um novo recorde na Western States, ultramaratona de 100 milhas [160 km]. “Minhas pernas ficam menos inchadas após corridas longas. E consigo retomar um ritmo forte antes do que conseguia quando não seguia a dieta páleo”, declarou Olson.
Mas a versão mais radical da páleo também elimina grãos e leguminosas (duas fontes importantes de carboidratos), bem como laticínios, álcool, sal e óleos vegetais. Protagonistas da páleo, como o pesquisador Loren Cordain, coautor do livro The Paleo Diet for Athletes (“A dieta páleo para atletas”, em tradução livre), dizem que esses alimentos elevam os níveis de ácido do organismo e liberam minerais dos ossos.
Cordain cita substâncias existentes nesses alimentos (fitatos nos grãos integrais e lectinas nos feijões) que inibem a absorção de nutrientes. Mas Heather discorda: “A perda de nutrientes é mínima e não parece causar deficiências”. Ela aponta para as populações do Mediterrâneo, que desfrutam de longevidade e poucas doenças crônicas com uma dieta rica em grãos e leguminosas.
A ênfase da dieta em comer carne em grandes quantidades (esta ênfase não existe em páleo, isso é um ERRO) também é preocupante, segundo Matt Fitzgerald, nutricionista esportivo certificado, treinador de corrida e autor do livro Diet Cults (“Os cultos às dietas”). Um estudo de 2012 feito pela Harvard School of Public Health (EUA) constatou que quanto mais carne vermelha as pessoas consomem, maior a taxa de mortalidade (não procede, leia aqui). “Gostaria de incentivar os corredores interessados na dieta páleo a comer mais peixe e frango e menos carne vermelha — e o mínimo possível de carnes processadas.”
Embora a dieta páleo ofereça benefícios potenciais à saúde, muitos especialistas criticam o baixíssimo teor de carboidrato de sua versão mais radical. Mas, segundo Joe Friel, treinador de resistência e coautor de The Paleo Diet for Athletes, os carboidratos liberados na páleo, que incluem frutas e alguns tubérculos, podem abastecer um atleta adequadamente antes da corrida.
Porém, ele observa, “esses alimentos têm o índice glicêmico baixo demais para repor o glicogênio, durante e após o exercício, tão rapidamente quanto a maioria dos atletas gostaria”. Timothy Olson, que venceu a prova Western States, precisou inserir mais carboidratos durante as corridas para evitar a exaustão nas provas de resistência. Ele tentou mel, tâmaras e frutas secas (que não são permitidas na páleo) e, finalmente, descobriu que os géis energéticos funcionavam melhor para ele (lembrando que ele correu 160 Km, e não 5 ou 10 km).
Para a reposição durante e depois dos treinos, Friel recomenda aos corredores tentar carboidratos não páleo, como bebidas esportivas, pães, arroz e batatas — mas evitar esses alimentos em outros momentos. A páleo requer boa dose de disciplina. “Ela bate de frente com a vida no mundo real”, diz Heather Mangieri, alertando que as restrições da dieta, por vezes, podem levar ao hábito de fazer jejum para em seguida comer sem freios. “Algumas pessoas acabam consumindo em excesso os alimentos que haviam negado a si mesmas antes.”
Outros corredores acabam adaptando o plano original. “Sigo a linha páleo que acredita que, para pessoas sem problemas de saúde como diabetes, os carboidratos têm seu papel. Então, incluí na dieta algumas fontes consagradas como arroz, batata-doce e até a normal, além de frutas como morango, maçã e uva-passa. Mas eu evito açúcar, trigo e outros cereais com glúten. Já corria antes da páleo low carb, mas, depois dela, saí de 4h03 na maratona para 3h52”, diz o professor universitário Adolfo Neto, de 42 anos.
Essa reeducação pode ser o bem mais valioso oferecido pela dieta páleo. Eliminar grãos, feijões e laticínios fará você se sentir melhor? Talvez sim, talvez não. Mas, se aventurar-se na dieta for o impulso para você cortar açúcares refinados, álcool em excesso e todo tipo de junk food, então é algo que vale a pena considerar.
Agora, a maior (e mais engraçada!!) prova de que low carb / páleo está ficando mainstream: um episódio inteiro de South Park dedicado ao tema (se não quiser ver tudo, vá direto para a posição 20:04):
Se preferir, clique aqui para baixar o vídeo em formato mkv, e aqui para a legenda em PORTUGUÊS.