Novo Guia Alimentar para a População Brasileira – um avanço

No último dia 5 foi lançado o novo Guia Alimentar para a População Brasileira pelo Ministério da Saúde. Considero que foi um avanço. Mais do que isso, considero que trata-se do mais avançado guia alimentar do mundo no presente momento (o que ajuda a colocar em perspectiva como os outros são ruins, já que o nosso ainda deixa bastante a desejar – ver mais abaixo na postagem). Não, ele não é low carb. Não, ele não é páleo. Mas dá ênfase a comida de verdade.

Para começar, assista esse ótimo vídeo da Francine Lima, extremamente didático:

Assistiu? Então, segurem seus tacapes, paleolíticos.  Vamos analisar alguns pontos essenciais. Como diz o próprio site do governo“A nova edição, ao invés de trabalhar com grupos alimentares e porções recomendadas, indica que a alimentação tenha como base alimentos frescos (frutas, carnes, legumes) e minimamente processados (arroz, feijão e frutas secas), além de evitar os ultraprocessados (como macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes).”



O Guia orienta as pessoas a optarem por refeições caseiras e evitarem a alimentação em redes de fast food e produtos prontos que dispensam preparação culinária (‘sopas de pacote’, pratos congelados prontos para aquecer, molhos industrializados, misturas prontas para tortas).

Você talvez não perceba imediatamente, mas isto é uma avanço e tanto. Não há pirâmide alimentar. Não se está demonizando a gordura como um todo, os ovos ou a carne, nem se está incentivando o consumo de grãos em quantidade suficiente para compor 60% das calorias (na verdade, pães foram classificados como alimentos processados e não são encorajados). Também não se recomenda comer cada 3 horas. O critério maior para indicar o consumo é o fato de ser comida de verdade. Comida de verdade, plantas e bichos, esse conceito lembra alguma coisa pra você?

Agora, leia as 10 recomendações das novas diretrizes, e veja com quantas você concorda:

E então? Afora a questão de que eu não restringiria queijo, de ser mais específico quanto a “óleos” (desaconselhando óleos refinados, mas liberando azeite de oliva, manteiga e banha), de eliminar os farináceos e os sucos de frutas, o resto está de acordo com o que pregamos por aqui.

Ou seja, em suas linhas GERAIS, é um avanço. E seria maravilhoso se parasse por aí. Por sorte, a maioria das pessoas não tem paciência de ler o documento inteiro…

Agora, quando nos debruçamos sobre o documento original (que tem mais de 140 páginas), a coisa vai de mal a pior…

Primeiro, alguns destaques positivos:

  • O efeito de nutrientes individuais foi se mostrando progressivamente insuficiente para explicar a relação entre alimentação e saúde. vários estudos mostram, por exemplo, que a proteção que o consumo de frutas ou de legumes e verduras confere contra doenças do coração e certos tipos de câncer não se repete com intervenções baseadas no fornecimento de medicamentos ou suplementos que contêm os nutrientes individuais presentes naqueles alimentos.
  • Padrões tradicionais de alimentação, desenvolvidos e transmitidos ao longo de gerações, são fontes essenciais de conhecimentos para a formulação de recomendações que visam promover a alimentação adequada e saudável. Esses padrões resultam do acúmulo de conhecimentos sobre as variedades de plantas e de animais que mais bem se adaptaram às condições do clima e do solo, sobre as técnicas de produção que se mostraram mais produtivas e sustentáveis e sobre as combinações de alimentos e preparações culinárias que bem atendiam à saúde e ao paladar humanos. 
  • Em paralelo ao crescente conhecimento de profissionais de saúde e da população em geral acerca da composição nutricional desbalanceada dos alimentos ultraprocessados, nota-se aumento na oferta de versões reformuladas desses produtos, às vezes denominadas light ou diet. Entretanto, com frequência, a reformulação não traz benefícios claros. Por exemplo, quando o conteúdo de gordura do produto é reduzido à custa do aumento no conteúdo de açúcar ou vice-versa. Ou quando se adicionam fibras ou micronutrientes sintéticos aos produtos, sem a garantia de que o nutriente adicionado reproduza no organismo a função do nutriente naturalmente presente nos alimentos. 
  • Hipersabor: com a “ajuda” de açúcares, gorduras, sal e vários aditivos, alimentos ultraprocessados são formulados para que sejam extremamente saborosos, quando não para induzir hábito ou mesmo para criar dependência. A publicidade desses produtos comumente chama a atenção, com razão, para o fato de que eles são “irresistíveis”. 
  • Calorias líquidas: no caso de refrigerantes, refrescos e muitos outros produtos prontos para beber, o aumento do risco de obesidade é em função da comprovada menor capacidade que o organismo humano tem de “registrar” calorias provenientes de bebidas adoçadas. 
  • A REGRA DE OURO: Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados.

Onde erra feio?

  • O texto chega a ser repetitivo e chato em sua condenação ao sal, coisa que é BEM questionável (veja aqui);
  • Persiste, no corpo do texto, uma ênfase nas calorias;
  • As sugestões de refeições são, frequentemente, desastrosas (especialmente as de café da manhã, com seus pães);
  • É notório um certo preconceito contra carne vermelha (veja aqui e aqui porque isso não tem muito fundamento);
  • A farinha de trigo tem um certo passe livre no texto do documento;
  • Desaconselha a gordura dos laticínios, quando a literatura mostra justamente que os únicos laticínios saudáveis são os integrais, justamente por causa da gordura (veja aqui, aqui e aqui)

VEREDITO

–> Trata-se de uma evolução. E chamar isso de evolução significa duas coisas: que o que existia antes era uma desastre. E que ainda temos MUITO caminho pela frente.

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